O primeiro registo de tartarugas marinhas nos Açores foi feito pelo capitão holandês van Linschoten, que escreveu nas suas rotas de navegação em 1595: “… quando passar de 36 ° para 39 1/3 graus, verá a Ilha das Flores com muitas tartarugas a flutuar na água”. No final do século XIX, o Príncipe Albert I de Mónaco foi o primeiro cientista interessado nestes magníficos animais enquanto explorava os mares dos Açores. Foi muito mais tarde que o cientista holandês Brongersma e o norte-americano Archie Carr questionaram-se acerca da origem das tartarugas que ocorriam nos Açores, depois de verificarem que não existiam praias de nidificação neste Arquipélago. Surgiu então a ideia de que as tartarugas dos Açores eclodiam no sudeste dos Estados Unidos da América e que depois de entrarem no mar, seriam transportadas pelo giro do Atlântico Norte. Nos anos 1970’s, Brongersma apontou para a necessidade de se fazer um programa de marcação de tartarugas marinhas de forma a descobrir a proveniência destes organismos. Foi apenas em 1982 que foi possível iniciar este Programa na região com a participação da investigadora Helen Rost Martins do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores e do naturalista Dalberto Pombo, natural da ilha de Santa Maria, que já tinha começado há mais de uma década atrás a marcar tartarugas.

No ano de 1984, os registos das marcações realizadas na região foram partilhados com o Departamento de Biologia da Universidade de Florida, de onde provinham as marcas e onde Archie Carr trabalhava. As medições de carapaças realizadas nos Açores, em paralelo com as marcações, foram sobrepostas com os comprimentos registados nas costas dos EUA. Foi então que se desvendou a teoria levantada por Archie Carr designada de “ano perdido”. Nas praias de nidificação da Flórida só se avistam pequenas tartarugas de 5 cm acabadas de eclodir e jovens adultos com 50-55cm de comprimento de carapaça e adultos de maiores dimensões. O paradeiro das tartarugas de tamanho intermédio (i.e. juvenis oceânicos) durante este período era um mistério e assim surgiu o nome de “Ano Perdido”. Archie Carr chegou a publicar a sua teoria pouco antes de falecer em 1987 e o Estado da Florida criou um centro dedicado a este cientista, o Archie Carr Center for Sea Turtle Research (ACCSTR) onde dois dos seus alunos, Karen Bjorndal e Alan Bolten continuam o seu legado.


As técnicas desenvolveram-se e no princípio dos anos 1990 começou-se a tirar amostras de sangue para estudos genéticos em cooperação com o ACCSTR. O padrão do movimento das tartarugas do Atlântico Norte foi confirmado através da comparação com as sequências de DNA mitocondrial das populações que nidificam no Atlântico Oeste (Brasil e América do Norte) e no Mediterrâneo. O resultado mostrou que praticamente todas as tartarugas encontradas nos Açores têm origem na zona Sudeste dos EUA (SEUS). Paralelamente, foram utilizados também transmissores satélite fixos na carapaça das tartarugas para investigar os movimentos das tartarugas dentro da região. No inicio dos anos 2000 realizaram-se experiências com um navio palangreiro para avaliar a influência do tipo de anzol e de outras varáveis na captura acidental de tartarugas, uma das grandes ameaças para estes animais na região, para além do lixo marinho e poluentes. Nos anos seguintes, muitos artigos científicos foram publicados nas mais variadas áreas da ecologia e biologia de tartarugas marinhas, resultado da parceria entre a Universidade dos Açores e a Universidade da Flórida. Recentemente foi publicada uma sinopse sobre a colaboração entre o ACCSTR e o DOP na revista Arquipélago – Life and Marine Sciences.

O projeto COSTA iniciou-se em 2015 com o objectivo de consolidar a investigação e conservação de tartarugas marinhas nos Açores e no Atlântico Norte.